ISSN: 2021-12AAnrefP21

Abreu Nzuanga Panzo

Conceito de escola

A escola surgiu no século XVII como instituição de apoio as famílias que precisavam educar os seus filhos, ganhando espaço no século XIX ao assumir profissionalmente a responsabilidade de educar, tomando, de certa forma, a função antigamente realizada pela família.[1]

Na perspectiva de Queiroz, escola é, “a casa ou estabelecimento onde é transmitido um ensino colectivo. Conjunto formado pelos alunos e professores”.[2]

Já Luft, diz que: “a escola é uma instituição que tem o encargo de educar, segundo programas e planos sistemáticos, os indivíduos nas diferentes idades da sua formação”.[3]

Em conformidade as definições dos autores acima, podemos aferir que a escola é uma organização específica de educação e interesse público.

A escola, seja qual for o seu tipo (pública ou privada) e nível (primária, secundária ou superior), move-se num contexto político-administrativo com o qual mantém estreitas relações que actuam em duas direcções: de fora para dentro e também de modo inverso.[4]

Escolarização

Desde o início da humanidade, o ser humano sempre busca se aperfeiçoar diante das situações que enfrenta, adaptando o mundo em que vive em função de suas necessidades. Um conceito que sofreu e sofre muitas mudanças ao longo do tempo é a educação, um tema que está sempre em pauta nas mais diversas esferas da sociedade. Porém, outro termo mais recente se comparado ao processo educacional, mas que causa certa confusão quanto ao entendimento e responsabilidade é a escolarização.[5]

Segundo Moura a escolarização é “o acto ou efeito de escolarizar; conjunto de conhecimentos adquiridos na escola.[6]

De acordo com Madureira a escolarização é “a acção de agir activamente no processo escolar de uma pessoa, ensinando formalmente conteúdos escolares.[7]

Cortela diz que “as famílias confundem escolarização com educação. É preciso lembrar que a escolarização é apenas uma parte da educação, educar é tarefa da família.[8]

A escola é importante em Angola evidentemente, porque primeiro refere-se a um povo que foi sacrificado pelo colonialismo português durante muito tempo e agora nessa conjuntura, precisa e merece conhecer também o outro lado da vida. Mesmo aquelas famílias que vivem abaixo das condições de sobrevivência hoje, mandam os filhos à escola considerando como algo importante. Até famílias de condição econômica aparentemente estável, que não passaram pela escola têm essa consciência de que quem passou pela escola tem mais vantagem. Reconhecem que a escola é o melhor lugar para os seus filhos. Observa-se hoje, uma preocupação e atenção maior da sociedade angolana no que se refere à escola.[9]

No passado, a escola era privilégio da minoria, normalmente angolanos descendentes de europeus e um número muito reduzido dos considerados assimilados. E eram mais homens, porque no caso das mulheres, ir à escola, era considerado uma perda de tempo, porque a sua ocupação tinha que ser somente procriação e cuidar dos trabalhos domésticos. Os poucos pais que conseguiam quebrar esse mito, eram duramente criticados pela sociedade. Actualmente mesmo as famílias sabendo que o seu filho está tendo aulas debaixo duma árvore, realidade em algumas localidades na qual a criança leva a sua cadeira de casa e outros sentam no chão, apoiando o caderno no colo para escrever, ainda assim alguns pais chegam a castigar o filho que não quer ir à escola.[10]

Assim, ao longo do tempo, a família teve de reconhecer a necessidade da escolarização para a formação dos filhos, o que não implica a transmissão de toda a responsabilidade da educação das crianças para a instituição escolar.

Educação familiar vs Educação escolar

A família e a escolar compartilham a mesma função educacional, embora uma não possa, ou não apresente, condições de fazer o serviço do outro. Nos tempos actuais, o desempenho dos pais deixa muito a desejar, principalmente, nos modelos de ensino e aprendizagem, pois isto exige prática e acompanhamento do desenvolvimento, já que a criança, ou adolescente não apresenta maturidade suficiente para enfrentar suas dificuldades sem a presença e os limites colocados pelo adulto.

A educação familiar é um projecto de formação e construção de cidadãos éticos.[11]

O maior ensinamento familiar é o da convivência social. O principal item desta convivência é a formação do padrão comportamental social tendo como base a ética.[12]

A educação escolar é o processo de educação realizado em um sistema escolar de ensino, podendo ser desenvolvido em institutos e instituições legitimadas para exercê-la.[13]

A educação sempre ocupou um espaço importante na sociedade, na qual a escola e a família desempenham papéis fundamentais na transmissão dos conhecimentos. Entretanto, há muitos desafios em relação às responsabilidades que cada instituição possui no trabalho pedagógico. A política de participação dos pais é algo que intriga os profissionais da educação, já que se acredita que o bom desempenho escolar da criança está directamente ligado à participação dos pais na vida escolar do indivíduo. Dessa forma, como fazer com que tal relação entre escola e família propicie condições favoráveis para que o aluno alcance o sucesso escolar? O que a escola deve fazer para que a família se interesse pelos assuntos relacionados à educação do seu filho? A escola se apresenta como objecto importante nesse processo, já que devido à formação que os profissionais possuem, é cabível que haja uma iniciativa por parte desta instituição para que se estabeleça uma relação harmoniosa e produtiva entre as duas partes envolvidas.[14]

A família, espaço educativo por excelência, é vulgarmente considerada o núcleo central do desenvolvimento moral, cognitivo e afectivo, no qual se “criam” e “educam” as crianças, ao proporcionar os contextos educativos indispensáveis para cimentar a tarefa de construção de uma existência própria. Lugar em que as pessoas se encontram e convivem, a família é também o espaço histórico e simbólico do qual se desenvolve a divisão do trabalho, dos espaços, das competências, dos valores, dos destinos pessoais de homens e mulheres. A família revela-se, portanto, um espaço privilegiado de construção social da realidade em que, através das relações entre os seus membros, os factos do quotidiano individual recebem o seu significado

De acordo com Diez, “a função da família, quanto a educação dos filhos, é mais em termos de assistência, exigências e ajuda à escola, do que em termos de acção directa sobre a sua inteligência. É naquelas atitudes que se estabelece a sua relação com a tarefa da escola no âmbito intelectual, sendo a inteligência do educando o ponto de encontro entre as duas acções educativas.[15]

Fraga diz que “o envolvimento das famílias nas escolas gera efeitos positivos nos pais e nos professores, nas escolas e na sociedade. Os pais que contribuem frequentemente com a escola permanecem mais motivados para se submergirem nos processos, actualização profissionais e assim, aperfeiçoam a sua auto-estima.[16]

 A mesma autora, diz que “a família representa um ambiente extremamente importante para o desenvolvimento da criança, porque é o primeiro sistema em que o ser humano se insere na sociedade, por meio do qual começa a estabelecer seu vínculo com o mundo.[17]

A família exerce o principal papel na modificação da conduta dos filhos no meio social. É nela que a criança adquire conhecimentos para se adaptar em diferentes meios, independentemente da cultura e das regras impostas, pois a família é responsável por educar os indivíduos para viver em sociedade.

A aprendizagem proporcionada pela escola não compreende apenas o conhecimento social, mas também valores e ideais. A escola é o lugar onde ocorre a continuidade dos princípios familiares. Assim, a escola permanece encarregada de receber e orientar o aluno em complementação à educação da família, para que possa se acomodar no meio, da melhor forma possível.[18]

A educação constitui uma das componentes fundamentais do processo de socialização de qualquer indivíduo, tendo em vista a integração plena no seu ambiente. A escola não deveria viver sem a família nem a família deveria viver sem a escola. Uma depende da outra, na tentativa de alcançar um maior objectivo, qualquer um que seja, porque um melhor futuro para os alunos é, automaticamente, para toda a sociedade.

A família e a aprendizagem Escolar

Muitos estudos têm sido dedicados à compreensão das causas do fracasso escolar das crianças ao longo do tempo. Dentre as causas apontadas, em geral, percebemos a influência da origem social, da prática pedagógica do professor sobre o padrão de estímulo intelectual e afectivo das crianças. Porém, a relação existente entre a família e os processos de aprendizagem não aparecem claramente nesses estudos.

O tema família vem sendo bastante estudado, as ideias que as maiorias das pessoas têm sobre o que seja uma família variam, no decorrer do tempo, de acordo com o contexto a que pertencem. Acredito que a organização familiar esteja directamente ligada ao grau de aproveitamento escolar dos filhos. Percebo que alunos com baixo rendimento escolar possuem uma organização familiar prejudicada. A escola tem o dever de agir em relação ao desempenho escolar de seus alunos, principalmente nos dias de hoje, afinal, o conceito de família vem perdendo espaço dentro da sociedade capitalista. Os estudos têm mostrado que a família que acompanha o processo de aprendizagem do filho poderá auxiliá-lo no momento que surgem dificuldades escolares. Logo, se a família acompanhar o rendimento dos filhos em sala de aula, estes dificilmente enfrentarão situações de atraso no aprendizado.[19]  

As famílias como agregação social ao longo dos tempos assumem funções de protecção e ensinamentos nos seus membros, como respostas as necessidades da sociedade.

As primeiras experiências educacionais da criança geralmente são proporcionadas pela família. Depois de nascer, a criança começa a sofrer influências que, aos poucos vão modelando seu comportamento: a roupa que deve vestir, a alimentação que deve tomar em determinados horários, as horas em que deve dormir.[20]

Os sentimentos que os pais têm em relação à criança, durante os anos anteriores à escola, são fundamentais para o desenvolvimento posterior da criança e para sua aprendizagem escolar. Esses sentimentos contribuem para que a criança desenvolva o conceito de si própria. Parte da influência dos pais provém da maneira como eles encaram a aprendizagem escolar.[21]

Em todos os níveis de escolaridade, os professores apontam a influência da família como factor determinante para o sucesso escolar dos seus alunos. Estabelecendo desta forma o conceito de que bons alunos provêm de famílias estruturadas e com bom nível cultural. Família que se importam com o sucesso escolar de suas crianças.

Assim, a escola que toma como objecto de preocupação levar o aluno a querer aprender, precisa ter presente a continuidade entre a educação familiar e a escola, buscando formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas e duradouras com relação ao aprender e ao estudar. Grande parte do trabalho do professor é facilitado quando o estudante já vem para a escola predisposto para o estudo e quando em casa, ele dispõe da companhia de quem, convencido da importância da escolaridade, o estimule a esforçar-se ao máximo para aprender.[22]

Segundo Carvalho “a promessa de uma relação produtiva entre a escola e a família inclui ganhos para a família (coesão, empandeiramento), para a escola (eficácia), para os estudantes (o sucesso de todos) e para a sociedade (a construção democrática a partir da base e do quotidiano).[23]

Ao longo dos anos, a família, por força de circunstâncias diversas, tem transferido para a escola a tarefa de instruir e educar. Entretanto essa situação não mais se sustenta. É preciso trazer o mais rápido possível à família para dentro da escola e que ela colabore de forma mais precisa com o processo de educar, compartilhar responsabilidades e não as transferir para outros.

Com recurso aos argumentos dos autores acima descritos, é fundamental e indispensável sublinhar que a fraca relação entre a escola e a família deve ser visto como uma situação preocupante, havendo necessidade de se questionar acerca das necessidades fundamentais dos alunos e ajudar os pais a desempenharem a sua missão educativa em colaboração com a Escola, convidando-os a envolverem-se mais nas actividades de aprendizagem e a orientar os estudantes na sua vida escolar.

Papel da família na escolarização dos filhos

Em todas as famílias, independentemente da sociedade, cada membro ocupa determinada posição ou tem determinado estatuto, como por exemplo, marido, mulher, filho ou irmão, sendo orientados por papéis. Papéis estes, que não são mais do que as expectativas de comportamentos, de obrigações e de direitos que estão associados a uma dada posição na família ou no grupo social.

Considerando que o objectivo primordial da educação, enquanto veículo de valores e de culturas e espaço de socialização, é o desenvolvimento do ser humano como pessoa, atendendo à sua natureza individual e relacional, ela deve, em democracia, centrar os seus esforços na preparação dos indivíduos para a participação esclarecida no sentido de livre, autónoma e activa no projecto comum da sociedade. Esta tarefa extravasa as competências da educação formal, exigindo a implicação das famílias e dos outros membros da comunidade envolvente.

De acordo com Benavete, “o processo educativo envolve vários actores, não se limitando só aos professores e alunos, todos, em conjunto, desenvolvem uma reciprocidade de acções e relações, que caracterizam todo espaço educativo.[24].

Freire afirma que, “a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda se a opção é progressista, se não se está a favor da vida e na da morte, da equidade e não da justiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não se tem outro caminho se não viver a opção que escolher. Encarná-la diminuindo, assim, a distância entre o que se diz e o que se fez.[25].

Cruz diz que, “parece fácil compreender o papel da família na formação da criança que será, tanto mais positivo para a criação do novo cidadão, quanto mais a família se libertar dos preconceitos do obscurantismo e da imoralidade, e se voltar para a divulgação dos princípios morais, desenvolvendo nas crianças valores positivos e sentimentos de honra, modéstia, de sinceridade, de austeridade, de justiça e outros.[26]

Há pais que depositam os filhos na escola, e deixam que seja esta a fazer tudo para a educação deles. Uma questão se coloca: a quem cabe a responsabilidade pela educação dos filhos, aos pais ou à escola? Os pais são os principais educadores de seus filhos. E isso é assim porque existe uma relação natural entre paternidade e educação. A paternidade consiste em transmitir a vida a um novo ser. A educação é ajudar a cada filho a crescer como pessoa, o que implica em proporcionar-lhe meios para adquirir e desenvolver as virtudes, tais como a sinceridade, a generosidade, a obediência, entre outras.[27]

Essa visão, certamente, contribui para que se tenha uma maior clareza do que se pode fazer no enfrentamento das questões socioeducativas no conjunto do movimento social. O ideal é que as famílias e a escola tracem as mesmas metas de forma simultânea propiciando ao aluno uma segurança na aprendizagem de forma que venha criar cidadãos críticos capazes de enfrentarem a complexidade de situações que surgem na sociedade.

Na perspectiva de Vygostsky “a educação recebida na escola, e na sociedade de um modo geral cumpre um papel primordial na construção dos sujeitos, a atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e consequentemente o comportamento da criança na escola.[28].

O acompanhamento familiar é um factor bastante importante na formação da personalidade da criança, pois que desenvolve sua criatividade ética e vai reflectindo directamente no processo escolar. E esta responsabilidade extremamente importante que a família tem de acompanhar o seu educando, muitas vezes norteia as atitudes a serem tomadas pelo mesmo.



[1] Cfr.: Marcus CUNHA, A Escola contra a Família, 2ª Ed., autêntica, Belo Horizonte, 2000, p. 449....


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