Abreu Nzuanga Panzo[1]

 

 BREVE VISÃO SOBRE A QUEDA DE VALORES MORAIS

Como consequência da queda de valores morais, surgiram outros fenómenos sociais e culturais. O declínio da esfera pública e da política, a crise ecológica, o impasse histórico do socialismo, os tribalismos, a expansão dos fundamentalismos, as novas formas de identidade social e as consequências da informatização sobre a produção e sobre o quotidiano trouxeram à tona a discussão sobre a pluralidade e a fragmentação presentes na época actual[2].

É possível a pessoa ser permanentemente optimista apesar da tríade trágica dos aspectos da existência humana, a dor, a culpa e a morte.  “O homem tem a capacidade de transformar criativamente os aspectos negativos em algo construtivo ou positivo. O que importa é tirar o melhor de cada situação”[3]. Para ela, o potencial humano sempre permite transformar o sofrimento numa conquista e numa relação humana, extrair da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo para melhor e fazer da transitoriedade da vida um incentivo para realizar acções responsáveis.

Aprofundando mais a questão das desigualdades e suas consequências, o psicólogo Alex de Paula Tavares admite que é difícil ser optimista quando os contrastes sociais (riqueza e pobreza), as epidemias (Paludismo, DST), a violência ecológica (desmatamentos, queimadas, extinção de animais, efeito estufa) e a violência humana (homicídios, narcotráfico e consumo de drogas, prostituição infantil, corrupção, impunidade) são verdadeiras avalanches que parecem a todos soterrar[4].

 Ele avalia, porém, que não é a partir daí que nascerá uma construção, ainda que utópica, de uma nova realidade. Para ele, existe uma morada que transborda do coração humano e que remete todos a uma exigência primordial e axiomática na fundação do Ser Humano e nas inter-relações que este estabelece com o Cosmos e com todos os seres.   “Ela clama pela crença de que o homem encontrará o seu ritmo, seu lugar no Cosmos, sua morada telúrica e eterna[5].

QUEDA DE VALORES MORAIS

Desde o início deste milénio, temos sido sistematicamente doutrinados na filosofia da revolução tecnológica através de uma contumaz divulgação de imagens lascivas pelas redes sociais. Tem havido uma implacável investida a favor da imoralidade, deslumbrando as práticas tradicionais da ética angolana, em especial no âmbito da moralidade sexual e da educação da pessoa humana.

Tem existido na consciência de muitos adolescentes e jovens uma forte vontade em aniquilar a moral e aparta-la da consciência dos demais, a despeito desta intrigante cultura nos suscita hoje o desenvolver de uma nova era, e dela advêm os excessos de que ontem encontravam-se ocultos.

Porém, a época em que hoje vivemos tomou o peso da evidência contrária, a moral foi sepultada na terra do esquecimento, os princípios cívicos colocados às costas, vivemos uma época em que se degradam de forma caótica e progressiva todos os princípios culturais que nortearam ontem os nossos ancestrais. Infelizmente, a tecnologia, tem sido muito mal aproveitada, traduzida em arsenal para aniquilar a moral, a civilização, e as regras de boas condutas, transformada num vilão perigoso, convertida no acelerador da destruição da nossa cultura original e do bom carácter, despindo o ente humano de educação e de civismo.

Não se educa nos céus para os anjos, educa-se na terra para os homens, e os homens são o que uma realidade problemática sob amplos aspectos[6].

A imoralidade pilhou na consciência humana hoje a educação. Muita gente leva a vida toda perdendo o seu tempo tão precioso, somente para exibir linguagem lasciva em redes sociais, expor imagens imorais e vergonhosas como torneiras incansáveis em jorrar disparates sem lucro nenhum.

Os marcos de educação, tornaram-se numa catástrofe em acção, os pais passaram a ser chamados de velhos, quando a idade perde o seu rosto e a velhice atravessa ao longo de sua existência, os pais são lançados no beiral, sem eira, nem beira, a Deus dará, muitos dos quais foram o factor decisivo da formação destes mesmos elementos que hoje menosprezam a sua existência, no beiral ficam a deriva, como bolor sobre cascos perdidos num ermo, e seus filhos, comendo, e bebendo do bem e do melhor[7].

Hoje, os mais novos deixaram de respeitar os mais velhos, em tempos passados, quando um mais velho falasse, era imperativo o calar da boca do mais novo, aos nossos dias isto tornou-se num carácter repugnante, portanto em tempos passados se o mais novo estivesse sentado num autocarro ou em outro local era imperativo a cedência do seu lugar ao mais velho, havia respeito e educação, hoje observa – se até crianças de tenra idade a mandarem seus pais a calar a boca, parece que chegamos na era da imoralidade e da perda total da expressão cívica; saudar ao próximo tornou-se estranho e fora do comum em que muitos não respondem as saudações nos táxis, nos autocarros, ou mesmo em locais públicos, o silêncio domina a boca dos homens quando alguém saúda, somente escassas pessoas respondem. Pedir perdão, foi substituído pela arrogância e a intolerância. Por mais que alguém se forme, se estiver despido de ética, civismo e moral torna-se pior que um leão faminto.

Infelizmente, muitos dos encarregados de educação da criança, têm colaborado de maneira deliberada para este esforço. Por sua falha ao não colocar sobre o alcance das crianças as regras de vida e de convivência nos estratos sociais, e nem oferecer de forma continuada uma educação clara e detalhada sobre a pessoa humana, em substituição a educação têm oferecido às crianças matérias de alta tecnologia, deixando-lhes entregues a um mundo estranho, destruindo a velocidade da luz toda boa obra inata na pessoa da criança em substituição à má conduta e a imoralidade.

No entanto, a evidência mais nítida de quão longe nos afastamos da moral e do civismo, se encontra na crescente aceitação que tributamos as crianças e adolescentes a decidirem por sim mesmos a escolha do caminho que têm a percorrer, fazerem das ruas suas residências peculiares, os jovens hoje, são expostos a correntes de princípios imorais e antiéticos, são lhes negados a constituição de uma personalidade séria, em substituição a princípios anómalos e perigosos para o futuro do jovem. Porém, seriam os encarregados de educação o ponto de partida no que concerne a utilização das redes sociais, moderando o seu uso e vigiando de maneira consciente a sua utilização, e os grupos em que o adolescente está inserido, as publicações que faz e os comentários também.

É bastante oportuno que gastemos tempo e esforço, para avaliar o preço que havemos de pagar pelo uso inadequado das redes sociais pelos adolescentes e crianças, e que meditemos sobre o tipo de sociedade que resultará no amanhã com a degradante moral que hoje assume o piso do topo na consciência mais jovem. E qual é a contribuição das redes sociais na unidade básica de nossa sociedade: a família?

A revolução tecnológica tem produzido muitos efeitos plausíveis, mas também quando muito mal aproveitada transforma-se num caos, e em muitos casos ruína da mentalidade sã, e degradação da família em virtude da mesma ser muito mal usada, e aproveitada somente para fins que visam ofuscar o ego humano e algema-lo na perdição declarada[8].

Milhares de jovens confusos em redes sociais, a crescerem e a atingirem a maturidade sem a influência directa de seus pais que agiriam como pessoas maduras, responsáveis, líderes amáveis, e exemplo de vida e educação no seio do lar.

Como consequência de uma missão que muitos dos encarregados negaram se Auto responsabilizar, resulta o elevado número de crimes, o abuso do álcool, a prostituição e o uso de drogas ilícitas. Ninguém nasce sabendo, todos nascemos inocentes, e é da sociedade que adquirimos o bom ou o mau carácter, somos frutos da constante informação que absorvemos na sociedade em que estamos inseridos e incutimos no dia-a-dia para iluminar ou escurecer as nossas atitudes.[9]

AS CAUSAS DA QUEDA DE VALORES MORAIS

Os levantamentos de opinião pública são unânimes: a violência é uma das maiores preocupações da sociedade contemporânea. Assistimos a cenas de agressividade a todo momento, todos os dias, nas principais metrópoles do país. Ficamos perplexos com a extensão do problema e mais ainda com a constatação de que não sabemos como sair dele. A que se deve essa situação tão grave, que ceifa tantas vidas e fere tantas pessoas, física, emocional e moralmente?  

A ciência se debruça sobre essa questão, e revela um cisma de abordagem e de interpretação entre os pesquisadores que atribuem a maior parte da culpa ao ambiente e aqueles que responsabilizam a constituição biológica dos indivíduos.  

No primeiro grupo estão os que atribuem a causa dessa crise de violência às condições de organização da sociedade: o abismo entre ricos e pobres, a falta de oportunidades e de emprego para os jovens, as deficiências do sistema educacional. A opinião pública tende a concordar com esse ponto de vista, reconhecendo a inadequação vergonhosa da nossa sociedade partida. Mas há indícios de que talvez não sejam esses os únicos factores que desencadeiam a violência entre as pessoas.

Não é fácil identificar o que leva alguém a ser violento. Muitas vezes, não se pode apontar um único factor, como companhia, entretenimento ou o ambiente social. Outros factores podem estar envolvidos, como:

·Influência da multidão como se observa muitas vezes em eventos desportivos, é mais fáceis as pessoas se comportarem mal quando estão em grupos. Por quê? Elas “ficam menos atentas aos seus próprios padrões morais e é muito mais provável que reajam com violência e agressividade a provocações”, comenta o livro Social da (Psicologia Social)[10]. Mesmo concordando com a maioria dos estudiosos, no que diz respeito às dificuldades na identificação das causas. Da violência, Cruz Neto e outros sugerem, para esclarecer o recrudescimento da violência, que está em jogo uma complexa constelação de factores.

·Factores sócio-económicos: faz-se, aqui, uma relação entre pobreza e fome com a criminalidade. Os autores afirmam que a miséria conduz a roubo e prostituição; o desemprego ou a ausência de renda levam à ilegalidade, tentadora forma de obter ganhos fáceis e, por vezes vultosos, a desigualdade cuja percepção é favorecida pela exaltação ao consumismo promovida pela televisão, provoca frustrações que conduzem ao crime[11].

Factores institucionais, os autores destacam, com referência a estes factores, a omissão do Estado na prevenção e na repressão da violência. Sob o rótulo de prevenção, indicam a deficiência e ineficácia de: Sistema escolar, especialmente a público, no qual as crianças ingressam tardiamente, os professores são mal pagos, desmotivados e despreparados, o número de horas da aula é pequeno (no máximo quatro horas diárias), não garante a transmissão de conhecimentos básicos, não soube adaptar-se ao ensino de massa, sua organização permite a infiltração de drogas[12].

RECOMENDAÇÕES DE PLATÃO

É preciso evitar que estas imagens do mal cresçam entre os guardiões como ervas daninhas, prejudicando um pouco a cada dia o desenvolvimento de seu carácter e de sua alma, mas a melhor educação deve impressionar os olhos e ouvidos dos jovens e futuros guardiões com coisas belas, e isto desde a infância, levando-os a estar em harmonia com a razão e com o bem.

Uma vez tratado o espírito, é preciso cuidar do corpo. É examinada a ginástica, a alimentação, a medicina. O guardião deve abster-se da embriaguez, cuidar da alimentação, evitar as cortesãs e o excesso dos prazeres. É preciso também não se entregar aos extremos, ou seja, cuidar apenas do corpo ou apenas da alma, pois “os que praticam exclusivamente a ginástica acabam por ficar mais grosseiros do que convém, e os que se dedicam apenas à música tornam-se mais moles do que lhes caria bem.” É preciso se dedicar tanto a uma como a outra[26].

A educação deve formar o filósofo não apenas para a vida contemplativa, mas também para a vida activa. A formação e educação dos filósofos exigem grande dedicação e esforços por parte dos educandos.



[1] Docente Universitário e pesquisador, Angola. abreucongo@gmail.com

[2] MOURA, Maria Aparecida, Educação científica e cidadania, abordagens teóricas e metodológicas para a formação de pesquisadores juvenis, p.49.

[3] Ibidem, p.58.

[4] Ibidem, p.32.

[5] DELLASOPPA, E. BERCOVICH, A. M. e ARRIAGA, E., Violência, Direitos Civis e Demografia na Década de 80: o caso da área metropolitana do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais,1999, pp.155-176.

[6] Ibidem, p.171.

[7] Ibdem, p.172

[8] MOURA, Maria Aparecida, Educação científica e cidadania, abordagens teóricas e metodológicas para a formação de pesquisadores juvenis, …, p.58.

[8] Ibidem, p.36.

[9] HUNGULO, João Henrique, A quebra dos valores morais e cívicos. Editora moderna. 2016. P.1.

 [10] PILLETI, Nelson, Psicologia educacional, 17ª Ed. São Paulo, Editora Ática, 2001, p.15.

[11] CRUZ Neto, e MOREIRA, M. R. A Concretização de Políticas Públicas em Direção à Prevenção da Violência Estrutural. Ciência e Saúde Colectiva, ABRASCO, 1999, p.33

[12] FREITAS, E. D. at al. Evolução e Distribuição Espacial da Mortalidade por Causas Externas. Ed. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2000, pp.59-70.

 [13] Ibdem, p.25

[14] Ibdem, 27.

[15] PATTO, M. H. S. A família pobre e a escola pública: anotações sobre um desencontro. In: PATTO, M. H. S. et al. Introdução à psicologia escolar. 3ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2006. p. 288.  

[16] ANASTÁCIO, A. H. A. K. A, participação da família no contexto escolar da educação infantil em uma escola privada de Sinop. Editora:atlas,Brasil, 2009,p,121.

[17] CARVALHO, P. E. M. ,Relações entre família e escola e suas implicações de gênero, UFPB. Cadernos de pesquisa, 2000, p. 143.

[18] SÁ, Antônio Lopes,  Ética Profissional, 2ª Ed. São Paulo: Atlas, 1998, p.27.

[19] SANCHEZ, Vázquez, Adolfo, Ética, tradução de João dell’ anna. 24ª Ed. Rio de janeiro: civilização brasileira, 2003, p.21.

[20] BENEVIDES, Mª Vitória de mesquita. Juventude e sociedade: trabalho, educação, cultura e participação. São Paulo: editora fundação perseu abramo, 2004, pp.34-52.

[21] Ibdem, p.53

[22] ABRAMO, Helena e BRANCO, Pedro P. Martoni, Condição Juvenil no Brasil contemporâneo. Retratos da Juventude Brasileira, Ed.São Paulo: Fundação Perseu Abramo; Instituto Cidadania, 2005, pp. 40-54.

[23] SÁ, Antônio Lopes de. Ética Profissional, p.28.

 [24] B. Mondin, Introdução à filosofia. Ed. Paulus, Brasil, 1981, p.137.

[25] Ibdem, p.140.

[26] MEDEIROS, Alexsandro M, Projeto Ético-Político-Pedagógico na República de Platão. Ed.Petrópolis, Brasil,2013, p.9.


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